sexta-feira, outubro 01, 2004

Agora e Sempre

Pois é, o Sócrates ganhou.
Gostava de poder dizer um pouco mais, mas a verdade é que não há mais nada a dizer. Tal facto em nada vem mudar o meu dia-a-dia. Não há tristeza, nem alegria. Apenas apatia. Nada mudou verdadeiramente. Haverá um governo a explorar o coitadinho e uma oposição. Projectos verdadeiros para o país, para o comprimento de um contracto social verdadeiramente justo não passaram a existir. Tudo está igual. Para não dizer pior. Senão vejamos: as minhas propinas voltaram a aumentar (lá vem aquele artigozito da constituição outra vez). As empresas (e principalmente as portuguesas) continuam a acreditar que os lucros são maiores quando pagam pouco e reduzem o pessoal. Honestamente. Se isto não é a lógica do absurdo, então o que é? Quem compra os serviços são as pessoas. Se estas não tiverem dinheiro para gastar então as empresas não terão receitas. Será assim tão difícil compreender isto. A solução é sempre a mesma: manter os salários baixos, reduzir pessoal, aumentar os preços. Se os preços aumentam e mais pessoas estão desempregadas, menos pessoas poderão consumir os produtos. É preciso ser economista para conseguir explicar como é que estas soçuções são as correctas. Meus amigos isto é cíclico. E é óbvio que se as pessoas gastam menos, então as receitas fiscais são menores, po que é ainda mais preocupante se tivermos em conta que as receitas vêm, essencialmente, das pessoas e não das empresas, que na sua maioria fogem aos impostos. E se há mais pessoas desempregadas, maiores são os gastos no apoio social. A solução adoptada parece surgir (não consigo ver outra razão) por simples incapacidade do meio empresarial português de funcionar como um todo. Cada um joga para seu lado. Isolados compreendemos que necessitem de optar por soluções destas. E o resultado disto é o lento desaparecimento da classe média. O desaparecimento das empresas que não possuem recursos. O fosso entre ricos e pobres aumenta gradualmente. O resultado: revolta social. Os pobres serão sempre em maior número. Este é o futuro se as coisas continuarem desta forma. A solução passa sempre por sobrecarregar os que estão na classe média. Esta não é a solução. O problema reside no fosso social. A solução é a sua redução. A única maneira de termos um mercado financeiro rico é havendo dinheiro naqueles que usufruem dele. Em vez da criação de portagens, de novos impostos, de taxas e afins para cobrir a despesa pública, porque não taxar o mercado da especulação financeira, porque não reduzir as forças armadas a um nível necessário à preservação da sociedade e serviços verdadeiramente necessário ( Porque não podemos comprar submarinos quando nem dinheiro para a gasolina das lanchas que patrulham o nosso mar temos). Agir de acordo com a nossa dimensão. Porquê gastar milhões numa mudança de índole populista como a mudança dos ministérios, ou construir dez novos estádios quando o nosso património imobiliário se degrada a olhos vistos? Porque eu estou literálmente a cagar se Portugal possui dez estádios modernos quando em minha casa o tecto me cai na cabeça. Mas o povo português é extremamente comodista. Mas não exagerem! Tiraram-lhe a educação. Começam a tirar a saúde, os empregos, a esperança de um futuro. Políticos tentam cobrir a situação com orçamentos enganadores, previsões totalmente erradas, mas a realidade não está no papel. É sentida por cada um de nós a cada dia que passa. E isso ninguém pode esconder. Se há dois anos atrás estavamos de tanga, de tanga continuamos. "as joias penhoradas" e sem soluções. O arrojo da venda da propriedade do estado para equilíbrio de orçamento revelou ser infrutífero e digo eu contrapruducente. O ministro das finanças concorda. Mas e a solução? Por onde anda? Este governo é capaz de a ter (não acredito nisso, mas imaginemos). No entanto que crédito poderemos dar a um governo que não foi escolhido por nenhum de nós, que logo a começar revelou aspectos no mínimo pouco éticos? A secretária que de manhã era da defesa e à tarde da cultura (tacho), a reforma da caixa para alguém k trabalha um ano e meio e não cumpriu correctamente com a sua função (injustiça social), a relações públicas na pj (mais uma vez, tacho), o programa das colocações encomendados a uma empresa de um membro do psd (favoritismo), e muitas, muitas coisas mais que desconhecemos. Que crédito poderemos conceder a políticos que nos revelam que funcionam na base de interesses pessoais e esperam a apatia do povo? E o discurso de a culpa ser do governo anterior? Que raio é isso? O governo era PSD/PP. Nesse aspecto nada mudou. Grande parte da equipa manteve-se. Que crédito deverei eu conceder? Nenhum. Absolutamente nenhum. E a oposição não está melhor. Eu pergunto-me, será que não é possível termos um governo, uma oposição, um parlamento a trabalhar verdadeiramente em conjunto para o futuro de Portugal? Não compreenderão que isto não é uma corrida? Não há vencedores. E insisto uma vez mais. A educação é a única coisa que pode alterar o nosso futuro. A base de toda e qualquer civilização é a educação da mesma. Ao longo dos anos, principalmente estes últimos os que deveriam ser beneficiados por esta têm sido extremamente prejudicados. E é óbvio que muitos dos problemas advém deste facto. Continuamos um povo ignorante e incapaz. Culpa dos políticos que governaram e/ou fizeram oposição. O cavalo de batalha que foi o 25 de Abril começa a perder a sua força na esperança dos portugueses. Em particular das gerações mais jovens. Somos, por vezes, acusados de esquecer a importância do 25 de Abril. Pois eu vos digo que o 25 de Abril vive mais dentro de mim do que dentro de 90% dos políticos. O desejo da justiça, da liberdade e igualdade é a mesma em mim que era em meus pais no ano de 74. Vós políticos desiludiram. Falharam. Redondamente. E devem ter vergonha. Pedir desculpa. Compreender e admitir que falharam e tentar de novo. Começar de novo. Os vossos erros ao longo dos anos prejudicaram o povo português. Todos, sem excepção, são culpados. Nós também porque acreditamos em vós. A gravidade da situação não reside nos erros, mas na sua negação. Se não admitirmos que erramos não somos capazes de mudar. A culpa não é do anterior, não é deste ou daquele governo. É de todos vós. Dos que governaram e dos que fizeram oposição. Dos que não souberam planear um futuro para Portugal. De todos vós. Mas garanto que o 25 de Abril não morreu. Morrereis voçês primeiro, ignorantes, como viveram a vossa vida.