quarta-feira, julho 21, 2004

Na Abertura
 
Sendo este o primeiro dia de escrita pensei em, cuidadosamente, trabalhar um texto, que fosse ao mesmo tempo, uma pequena maravilha literária e uma breve introdução ao Blog em si.
Depois de alguma reflexão compreendi que tal seria, no mínimo, impossível. Em primeiro lugar, as minhas capacidades de escrita deixam um pouco a desejar, em segundo lugar não existe um propósito concreto para a criação de um blog. Estava aborrecido, é tudo quanto posso dizer. Havendo compreendido estes dois pontos sugeri a mim mesmo a escolha de um tema sobre o qual falar. Uma vez mais surgiram complicações. É dificil encontrar um tema sobre o qual apeteça falar. Sou demasido introvertido. Assim pensei em falar do título do blog, "Menino da Lágrima". Assim vejamos, a sua presença em 90% das casas portuguesas é óbvia. Qual de nós não possui em casa uma reprodução deste quadro, ou não tem pelo menos um vizinho que o possua. Não conheço ninguém. A sua existência é inegável para qualquer português. Pergunto-me se não terão os emigrantes exportado esta maravilha da cultura popular portuguesa para os seus países de acolhimento. Somos conhecidos também pelo exportar de maneiras de estar, pelo que se não for o menino da lágrima, será certamente o cão de porcelana ou a última ceia. 
Apesar da veracidade do que digo, o título do blog não se prenderá, certamente, a estes factos. Poderia dizer que não possui verdadeiramente uma razão de ser, mas estaria a mentir. O nome surgiu após uma boa centena de títulos que me vi impossibilitado de usar pois algum ignóbil já os havia escolhido. Comecei a sentir-me frustrado. Foi nessa altura que na minha mente surgiu o nome: " Menino da Lágrima ". Pareceu-me bem. Confesso que já a algum tempo que este quadro tem atormentado os meus pensamentos: Quem será o pintor? De que data será o quadro? Qual o seu verdadeiro significado? Como foi possível a sua difusão? Quem foi a primeira pessoa a comprá-lo? E porquê? Estas e muitas mais perguntas preenchem partes dos meus dias, perseguem-me, como se fossem fantasmas do meu passado. Aquela pequena gota está constantemente presente em mim. Assim como os olhos tristes daquela Lassie de porcelana, mas isso ficará para uma outra altura. A única razão para o nome do Blog é desespero. Já não sabia que nome escolher. Confesso
Gostava imenso de poder ter uma imagem do célebre quadro na página, mas até ao momento não consegui descobrir nenhuma imagem na net e tenho vergonha de ir pedir a um vizinho para fazer um scan do seu querido quadro, que tão bem preenche e dá vida á sua sala escura de sofás castanhos de pano ás riscas. Faço por isso um apelo a vós, que por alguma razão haveis chegado até este ponto do texto: por favor se souberem de alguma informação que me possa ajudar a desenhar a história deste quadro, enviem um mail.
O "Menino da Lágrima" é um valioso património português, uma presença inegável no panorama cultural da nossa grande nação. Haverão muitos que não conhecerão o "Políptico de S. Vicente" de Nuno Gonçalves, nem o "Adoração dos Magos" de Grão Vasco, nem o "Descida da Cruz" de Pedro Nunes, nem o "Anunciação" de Bento Coelho da Silveira, nem o "Adoração dos Magos" de Domingos António de Sequeira, nem o "A Carta" de Alfredo Keil, nem o "O Fado" de José Malhoa, nem o "A casa de persianas azuis" de Henrique Pousão, nem o "Sinfonia azul" de António Carneiro, nem o "Procissão Corpus Christi" de Amadeo, nem o "Cabeça" de Santa-Rita, nem o "Auto-Retrato num Grupo" de Almada Negreiros, nem o "Bandeiras Vermelhas" de Vieira da Silva, nem o "Arriscar Voar" de Rogério Ribeiro, nem o "Young Predators de Paula Rego, nem tantos, tantos outros que poderiam ser enumerados, mas o "Menino da Lágrima" todos nós conhecemos, todos nós já o vimos ou, pelo menos ouvimos alguém falar.
Quererei eu que todos conhecem o meu Blog como todos conhecem o "Menino da Lágrima"? Só se for a nível inconsciente. Não pretendo fama, nem aplausos, nem reconhecimento. Só um pequeno espaço onde eu possa esquecer que o Santana Lopes é primeiro-ministro e o Paulo Portas ainda tem o nariz empinado, onde possa não me lembrar que o meu salário é apenas uma amostra do que deveria ganhar e que por este andar não poderei nunca ter uma casa apresentável, onde possa colocar de lado o facto de que uma vez mais ( e não há tribunal constitucional que me retire esta convicção ) a nossa constituição foi violada naquele pequeno artigo 74º, alínea E ( e ainda há inergumenos com coragem de ir á televisão proclamar que a minha geração não conhece a constituição ). Mas isso ficará para um outro dia. Está perto da hora de almoço e a minha barriga começa a manifestar a sua impaciência. Concluindo:
Foi uma porcaria de começo de Blog, mas se por acaso decidir voltar, seja muito bem vindo. Quem sabe pode ser que isto melhore.
Um enorme abraço.
Ricardo


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